O regresso
O dia de voltar
à escola abeirasse. O Mágico agitado mal consegue dormir. Acorda. Isto é,
levanta-se. Entre a noite e a madrugada. A pensar já serem horas de voltar à
escola. O seu coração engasga-se. Bate mais depressa. Chega-se à porta do
quarto dos seus pais, e o sussurro fala baixinho. Mamã!?... Mas a casa, toda
ela, dorme. Dormem as portas, as janelas e os gatos. Dorme a tartaruga, a mãe e
o pai. E o despertador? Esse, também deve ter adormecido. E quando devia haver
um “Deus nos acuda”, e toda a gente numa gritaria, nada. O silêncio consome-se.
Nem movimento. Nem claridade sequer. Nada! E, aí contra tudo o que ele
desejaria, há um nervoso miudinho mandando nele. Hoje, é o primeiro dia de
escola. A mochila continua, distraída, a contar os minutos. A lancheira
dormita. O blusão nem sequer se espreguiça. Perante tudo senta-se na cama. Puxa
de um livro. E faz por o ler. Folheia uma página, salta pelas outras. Há algo
de estranho, que no fundo dele parece falar. Levanta-se mais uma vez. Ele
acredita que as pessoas crescidas não imaginam o nervoso que é o primeiro dia
de aulas. Os livros cheiram bem, tão bem! O estojo tem os lápis de cor todos
aprumados, prontos para a partida. O seu maior querer é chegar à escola e matar
as saudades. Mas, depois, ao entrar, há um friozinho esquisito que sobe por
ele. Ele interroga-se, serei crescido, certo? Qual nada. És grande. Enorme!
Como uma formiga… que esperas que ela se afaste. Pousa a mochila na sala.
Mui-to de-va-gar. Repara sem querer que um dos seus colegas “engraçadinhos” já
chegara. Não sabe a razão, mas eles atormentam-no. E, não sabe já se quer
ficar. Mas tens oito anos. Eu sei. Respira fundo. Ele engole o medo como se
fosse um gelado de morango. Mas uma lágrima queixinhas põe o dedo no ar. E não
resiste. Manda-a parar. E ela foge dele, mesmo para debaixo do nariz. O professor
fazendo de conta que não a vê questiona se algo se passa. Não, respondeu-lhe.
Ele queria tanto o regresso à escola. Agora tem certeza que o quer ainda mais. Sente-se
a ficar crescido, ainda que haja dias que não tem a certeza se quer crescer. Um
ano cheio de memórias incríveis, guardadas na algibeira das recordações, sempre.
Aprendizagens novas, desafios novos, amizades novas. É o nosso desejo para todos os Mágicos.
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