Do mar às mãos de artífices.
Era uma manhã de sussurros e segredos antigos propagados pelo dissipar da penumbra. Mas o murmurejar era tal que os segredos, se os houvesse, haviam ficado nas profundezas das bocas que os protegem. O céu parecia ter sido lavado durante a noite. A areia, ainda fresca, esperava pequenos pés ansiosos por traçar pegadas. Foi assim que um grupo de Mágicos chegou à praia - não apenas para brincar, mas para viver um daqueles dias que mais tarde guardam-se como tesouros da infância. Sob o manto do areal que os acolhe a cada dia mergulharam no azul da liberdade. Correram contra o vento, escavaram mundos subterrâneos com pás improvisadas, construíram castelos onde moravam reis de algas e rainhas de conchas. O oceano foi palco de batalhas de espuma, de explorações de poças rochosas, de descobertas que pareciam saídas de um livro de aventuras: um ouriço-do-mar tímido, um pedaço de vidro lapidado como uma joia, a perfeição geométrica de uma concha náutica. A manhã passou sem pressa, entre sal, Sol e silêncio interior. E talvez, sem saber, tivessem aprendido com o mar aquilo que os grandes filósofos diziam sobre o tempo: que ele não se mede, vive-se. Mas o dia estava longe de terminar. Após um almoço saboroso e uma pausa à sombra, os pequenos aventureiros trocaram os baldes por marcadores, as conchas por cartões, e o areal deu lugar a um novo campo de ação: a criação de jogos de tabuleiro. Inspirados pelas vivências do dia de ontem, começaram a dar forma a mundos inventados. Com uma folha em branco como ponto de partida e a mente em ebulição, nasceu um jogo de dominó onde os animais foram os protagonistas. Era como se o mar lhes tivesse oferecido um vocabulário novo, e agora, falavam fluentemente a linguagem da invenção. Uns criavam com estratégia, outros com humor, outros ainda com um instinto narrativo raro. E mesmo entre as peças recortadas à mão e os desenhos coloridos com canetas, lápis e entusiasmo, surgia um entendimento mais profundo: a criatividade é também um jogo - um em que se constrói, se arrisca e se partilha. No final do dia, com os jogos testados e os tabuleiros cheios de vida, os Mágicos tinham-se tornado criadores de universos próprios. Ali, entre a espuma da manhã e o papel da tarde, tinham experimentado o poder de transformar experiências em narrativa, e a brincadeira na construção do pensamento. Porque quando a natureza inspira e a imaginação encontra espaço, não há limites para o que pode nascer. E naquele dia, entre areia e estratégia, marés e mecânicas, aprendeu-se uma lição simples e profunda: que brincar é uma forma sublime de conhecer o mundo e de o reinventar.
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